*Por Marcelo Balbino
Um levantamento realizado em 2019 pela empresa Aocubo Pesquisa revelou que 98% dos brasileiros consomem café. Provavelmente você deve estar entre a maioria, entretanto também existem exceções, os miúdos 2%, fatia do grupo em que me encontrava tempos atrás. Os diferentes sabores do café se espalham pelo mundo.
Além de quase unânime, o ato de tomar um café – a princípio -, nos parece uma coisa muito simples. Antigamente não existiam tantas marcas, nem equipamentos projetados para a atividade. As variações existentes no ato de consumir a bebida eram apontadas nos conceitos de “forte ou fraco”, ou então “com ou sem açúcar”. A unanimidade era o café quente, mas se estivesse frio, poderia ser chamado de “velho”.
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Mesmo sem o aparato que dispomos atualmente, – nas máquinas de expresso, entre receitas e variados blends -, tomar um café nunca foi só tomar um café. Explico melhor: me refiro ao “entorno” da bebida e seu variado momento social, fatores que constituem os diferentes sabores do café.
No trabalho
Em algumas redações de jornais ou revistas, por exemplo, o café era o convite para a novidade, para não dizer “fofoca” ou comentários sobre os mais diversos assuntos. Por vezes eram temas amargos, focados na chefia e com linguagem carregada. O engraçado é que muita gente, que nem gostava de café, sempre surgia por ali, no cantinho das últimas notícias.
Na casa das tias, fazer ou tomar um café era um sinônimo para implorar: “não quero que você vá embora agora! Fique um pouco mais!” E ali na casa dos parentes, quando iam preparar a bebida, a água demorava muito mais para ferver, depois coar e servir.
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Nos estudos
Também era a bebida preferida dos universitários desprevenidos, aflitos em incursões noturnas para finalizar os trabalhos. Dizem que eram fichamentos de livros, apresentações e deveres que foram protelados com todo o vigor. Entre os diferentes sabores do café, alguns ainda misturavam com outros rótulos, com o objetivo de obter o resultado desejado e ficar sem piscar ou dormir.
Cinema
No cinema também são muitos exemplos. Quem não se lembra da cena de Ghost – do outro lado da vida (1990), quando Carl (Tony Goldwyn) derruba café em si mesmo, apenas para conseguir tirar a camisa e impressionar Molly (Demi Moore)? Isso sem falar nos títulos Café, Café Society, Café com canela. Em programas de televisão a conotação “Café com alguém” significa bater um papo, um momento “artístico-culinário-descontraído”. Pois é…cada um tem a sua receita.
Até neste momento, saúdo os mais técnicos ou baristas, com a minha xícara, junto a um pedido de desculpas, pois não tenho conhecimento técnico para me aprofundar no tema. Simpatizo muito com a profissão e respeito os ensinamentos sobre temperatura, qualidade, quantidade. Ainda neste contexto, desponta o café intelectualizado, aquele companheiro de leitura, do papo-cabeça e ensinamentos.
Já no campo da saúde muitos utilizam o café com finalidades terapêuticas, com ou sem comprovação científica. Às vezes é para curar a enxaqueca, ou então restabelecer algum excesso de álcool ingerido: “Vou te fazer um café forte para você acordar”.
Social
Na conotação social, a bebida pode representar um convite: “Passa aqui para tomar um café!” Ou até mesmo uma reclamação: “Não me ofereceu nem um café aquele miserável!” Em sua amplitude, substitui o nome de vários outros ingredientes, quando o tratamos por café da manhã, que na verdade significa pão, leite, manteiga e demais componentes. Sem falar que também dá nome para o comércio: “Estamos indo naquele café, venha conosco”.
Os mais místicos ainda podem encontrar pistas para o futuro na leitura da borra do café, nas tradições milenares de povos árabes na chamada técnica da cafeomancia. Enfim, seja curto, longo, moderado, quente, gelado, forte, fraco, doce, amargo. Para todos os gostos e até para quem não o consome, haverá sempre um momento do café.
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Marcelo Balbino é mestre em Comunicação, Arte e Cultura, pós-graduado em Português – Língua e Literatura e jornalista. Também é autor dos livros Entre o Sonho e a Realidade (Scortecci) e Espelho (Scortecci).
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